Estava ali caída, perdida num canto.
Todos passavam e ninguém a via.
Era comprida, muito fininha e no topo era amarela.
As crianças que antigamente por ali passavam, com rapidez puxavam de uma como tantas iguais a ela e punham-na na boca.
Lembrava-se porque é que tinha de ser tão comprida, verdinha e com uma cabecita amarela.
Era uma animação... sempre que com as amigas avistavam uma criança, esticavam-se... esticavam-se para que a criança ao passar por elas colhesse a mais frondosa.
Quando o jardineiro aparecia encolhiam-se e afastavam-se umas das outras com a esperança que não as visse.
- Malditas ervas daninhas! - dizia ele - Parecem coelhos! Se ao menos fossem coelhos ainda os comia! - e enquanto praguejava, arrancava violentamente cada uma das suas amigas.
Triste vida a delas...
Um dia os meninos cresceram e deixaram de olhar para elas... E quando um ou outro se sentia tentado em uma agarrar, rapidamente outro dizia - Que porcaria! - e ela e as amigas que tanto se esticavam para algum as apanhar viam a esperança a desvanecer e os meninos a afastar.
Um belo dia uma delas arrebitou e gritou:
- Já sei! Temos de nos mudar! No meio dos montes, dos prados, das matas, das florestas alguém nos há-de ligar! Quem por lá passar não olhará decerto para nós como se fossemos uma porcaria. Quem por lá andar olhará para nós com olhos de criança, chamar-nos-à pelo nosso nome - Azedas, e nunca olhará para nós como uma erva daninha.
Instalou-se a revolução e uma enorme onda de alegria. Mas de repente o silêncio tomou conta do espaço... Nunca poderiam sair dali... A não ser que uma criança as colhesse ou o jardineiro as arrancasse.
Uma atrás de outra foram desaparecendo. Umas com sorte terminaram nas mãos de uma criança, outras no entanto perdidas e arrancadas pelo jardineiro.
E agora ali, sozinha num canto, com todos a passarem sem a ver, pede ao jardineiro que a venha colher... Não, não desistiu... Mas a solidão e o desprezo que rodam à sua volta não a tornam apetitosa e não estando apetitosa nenhum menino a irá colher...
Sente um vulto a aproximar-se e a tremer começa a encolher-se "Ai... ééé...o jardineiro...". Espreitou recatada para cima e viu um homem grande, bem vestido a olhar para ela. Olhou, olhou e não tirava os olhos dela. Até que se baixou e tocou-lhe nas folhas amarelas. - Uma azeda aqui? No meio da cidade? - murmurou ao mesmo tempo que sorriu. Nesse momento a pequena azeda viu um menino grande. Sorriu e com todo o seu esplendor esticou-se e o menino grande colheu-a.
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