Este FDS estou a tirar de barriga de misérias este blog, mas este post é mais um desabafo que outra coisa.
A chuva que não caiu durante o dia (graças a Deus) desabou sobre nós hoje à noite, numa tempestade assustadora que nos fez andar (e temer) percorrer a CREL numa viagem a 50 km/h assustadores. Mas no meio disto tudo pensava na chuvada à pouco mais de um ano no caminho para a festa de Natal da minha ex (empresa) numa atabalhoada e querida logística de cabazes de Natal.
Amanhã… logo pela manhã, um funeral! Não estou triste, mas sim apreensiva… Bem que se diz que a partir de certa idade deixamos de ir a festas para irmos a enterros. É verdade… Nestes últimos 9 meses tem sido uma constante. Na quarta-feira passada, o Rui Pinto, hoje o meu padrinho.
Mas o que hoje me deixa apreensiva é o coma. Somos informados que alguém próximo, neste caso o meu padrinho, entrou em coma e que poucas hipóteses tem de recuperar. Nas primeiras semanas existe a preocupação, a tristeza da frase que tilinta na nossa cabeça “Não se vai safar…”. E passam-se semanas, meses, neste caso seis meses, e alguém nos telefona a dizer “O teu tio morreu…”. É esse hiato que me deixa apreensiva. Por dois motivos, um estranho e sem sentido que vem cá de dentro e que me diz “Ah, o tio… já me tinha esquecido… ele já não tinha morrido?” e outro uma consequência deste pensamento… Para a mulher e para os filhos, independentemente do seu relacionamento, este período de seis meses teve a atenção dos familiares e amigos mais próximos apenas nas primeiras semanas e caiu no esquecimento até ao dia da sua partida, hoje. Pergunto-me o porquê de um coma tão prolongado, por onde andou nestes meses, porque permitiu que, falo por mim, o considerasse já lá, quando ainda estava cá? Ou já não estaria? De certo que está com o meu pai, o meu tio Fernando, nisso acredito. Hoje recordo-me da última vez que o vi, na missa de sétimo dia do meu pai, recordo-me dos seus filhos e acima de tudo da tentativa de me imitar a fazer pinos e cambalhotas no meio da sala dos meus pais quando eu tinha 10 aninhos (e conseguia!). Era um personagem singular, amigo do meu pai e o meu sempre esquecido padrinho, mas era nosso amigo.
Amanhã, vou lá, com a minha mãe, ao local onde entregámos o corpo do meu pai sem vida, para lhe dar aquele abraço que supostamente já lhe havia enviado há meses atrás.
Amanhã vou lá para levar o meu pai comigo, não vá o destino ter pregado uma partida e terem-se desencontrado, sempre foi tão desligado, tão distraído...
Até lá, que a chuva pare...
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1 comentário:
Querida,
os teus textos são aqueles que eu gostaria de ter escrito. os problemas que levantas em cada participação aqui são os nossos problemas. tens o dom da escrita. isto está na alma. eu cá não possuo esse dom, mas possuo sentimentos. e sei reconhecer uma alma de valor com a que tens. por isto permiti-me o "Querida" ao início do texto. e já que tu crês em almas, vê se por um desses acasos loucos as nossas duas já não tenham se encontrado algures...
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