Sabia o caminho. Pela José Malhoa acima a conduzir numa noite tão diferente das outras. O meu destino? A casa dos meus pais. Passo o viaduto da Gulbenkian e de repente tudo escurece. Nem candeeiros que iluminem a estrada, nem prédios com janelas iluminadas, nem o brilho da lua das estrelas me guiavam. Até os faróis do meu carro eram fracos, tão fracos que nem meio metro de estrada iluminavam. O medo, o terror inundaram-me. Junto ao que na minha memória guardava com distâncias mais ou menos calculadas de caminhos tantas vezes percorridos, localizei-me junto à mesquita e encostei o carro assustada, com medo de levar com um carro ou bater em qualquer coisa que não imaginava. Saí do carro e pelo meio do que os meus pés diziam ser estrada caminhei às escuras. Ao longe comecei a ver luzes lentas e amarelas a caminharem na minha direcção. Gentes tristes com capas velhas e castanhas com capuz pontiagudo começaram a passar por mim. Sempre de olhar cabizbaixo, a caminharem como se de uma procissão se tratasse, mas com passos de desalento e uma tristeza e inexpressão estampada em rostos sorumbáticos. Rodei sobre os calcanhares parada, parva e com medo. Aproximou-se um polícia de mim e aconselhou-me a juntar às gentes tristes, que ficaria mais segura. Não... Não! e Não! Comecei a andar para trás e enfiei-me no meu carro, mesmo sabendo que o caminho que nele percorresse seria incalculavelmente escuro e que dependia inteiramente dos meus instintos. Os primeiros metros conduzidos foram com pouca luz. Comecei a descer a medo a rampa do teatro para a Praça de Espanha, mas ao invés de ela inclinar para a esquerda, começou a inclinar para a direita... deixei-me seguir. Ao mesmo tempo que o caminho à minha frente se estreitava o céu tornavasse cada vez mais limpo e começava a nascer o dia. O caminho tornou-se tão estreito ao ponto de o meu carro não conseguir avançar mais. E resolvi deixá-lo ali, naquele beco sem saída, por motivos de largura... Saí do carro e pisei uma calçada irregular de granito. Olhei em frente estava num largo cheio de casinhas. À frente o único caminho. Percorri subindo a rua de granito no meio de um imenso sol, passei por um arco antigo e comecei a subir, a correr a caminho de ...
Até há uma semana atrás tinha dois sonhos que me marcavam a vida. O sonho de infância recorrente em que um lobo mau me perseguia à volta do palco da escola. E o sonho recorrente de adulta daquela casa sempre igual que terminava sempre numa divisão diferente. Não os tive mais e nunca os hei-de esquecer. No sábado passado em pleno descanso este sonho inundou-me por completo. Por medo, receio, segurança e insegurança, por todos os sentimentos arrebatadores e intensos de dúvida. Não o esqueci. Acordei a caminho de... Acordei a tremer, cheia de medo. Acordei com um ponto de interrogação na minha cabeça "O que é que isto quer dizer?". Hoje, ainda hoje, consigo lembrar-me de todos os seus minimos detalhes e o ponto de interrogação ainda me vai passando pela cabeça. Mas já não me assusta...
Ouvi enquanto escrevi - "Freedom" da BSO Braveheart
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1 comentário:
Nem sempre o caminho mais facil é o nosso .. alias por vezes o nosso é aquele que mais longe parece estar de nós... Sente e ouve sempre o teu coração ele indica-te o caminho certo por mais empurões e seduções que nos impinjam no nosso caminhar ... O teu coração sabe por onde ir.
BJJJJJJJJ MEGA AZUL
ADORO TE
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