Como as viagens mudam...
Antes ía sempre sentada no banco de trás do carro...
Entrava no carro e ao sentir o cheiro enjoativo dos estofos em pele desejava que a viagem fosse curta...
Encostava a cabeça ao vidro, passávamos a ponte e começava a ver os barcos que passeavam no rio... sabia que ainda faltava mais de uma hora de caminho...
Olhava para as nuvens e via tudo... animais, flores, carros, até pessoas... lembro-me de um dia ter reconhecido o perfil do meu tio Luís nas nuvens...
Assim que deixava de reconhecer figuras nas nuvens... começava a cantar...
Cantava tudo e mesmo as letras das músicas que não sabia, inventava...
Cansada de cantar... começava a olhar para as matrículas dos carros que passavam e pelas letras dava nomes aos seus passageiros...
A certa altura começava a ficar impaciente...
Ainda falta muito?
- Estamos quase a chegar a Águas de Moura, daqui a pouco vês a Cegonha – dizia a minha mãe.
E assim a ansiedade diminuia... Próximo intertenimento: A Cegonha...
E ao fim de algum tempo ali estava ela, no campanário de uma igreja do lado esquerdo da estrada...
Depois de Águas de Moura? Ainda Pegões, Vendas-Novas, Montemor...
Viagem interminável... De passagem nenhuma das terras me cativava...
Interessavam-me mais os campos lisos, todos amarelos, com uma árvore aqui e outra acolá... Uma anta! Olha mãe! Uma anta!... E por minutos a viagem parecia rápida... As vacas a pastarem também me distraíam... ficava feliz ao passar pela barragem e vê-la cheia... Imaginava-me a tomar grandes banhocas...
Passávamos por Santa Sofia, e de todas as vezes a minha mãe dizia – É ali que o Engenheiro Chaves está enterrado... – (um aparte... ainda hoje quando por lá passamos a minha mãe olha e sorri... porque pensa em dizer a frase de sempre, mas não a diz só para não ouvir “Sim mãe, já sabemos...”).
E por fim chegávamos! Saía do carro toda moída e ía brincar para casa dos meus avós. Estranho é pensar que a viagem de ida era sempre assim, mas da viagem de volta nem me lembro... Sempre tão rápida...
Hoje em menos de uma hora chego ao destino...
hoje sou eu que conduzo...
hoje pouco vejo...
Hoje pouco vivo a alegria e a ansiedade de uma longa viagem...
Imagem: tilde by CubicSummer
Antes ía sempre sentada no banco de trás do carro...
Entrava no carro e ao sentir o cheiro enjoativo dos estofos em pele desejava que a viagem fosse curta...
Encostava a cabeça ao vidro, passávamos a ponte e começava a ver os barcos que passeavam no rio... sabia que ainda faltava mais de uma hora de caminho...
Olhava para as nuvens e via tudo... animais, flores, carros, até pessoas... lembro-me de um dia ter reconhecido o perfil do meu tio Luís nas nuvens...
Assim que deixava de reconhecer figuras nas nuvens... começava a cantar...
Cantava tudo e mesmo as letras das músicas que não sabia, inventava...
Cansada de cantar... começava a olhar para as matrículas dos carros que passavam e pelas letras dava nomes aos seus passageiros...
A certa altura começava a ficar impaciente...
Ainda falta muito?
- Estamos quase a chegar a Águas de Moura, daqui a pouco vês a Cegonha – dizia a minha mãe.
E assim a ansiedade diminuia... Próximo intertenimento: A Cegonha...
E ao fim de algum tempo ali estava ela, no campanário de uma igreja do lado esquerdo da estrada...
Depois de Águas de Moura? Ainda Pegões, Vendas-Novas, Montemor...
Viagem interminável... De passagem nenhuma das terras me cativava...
Interessavam-me mais os campos lisos, todos amarelos, com uma árvore aqui e outra acolá... Uma anta! Olha mãe! Uma anta!... E por minutos a viagem parecia rápida... As vacas a pastarem também me distraíam... ficava feliz ao passar pela barragem e vê-la cheia... Imaginava-me a tomar grandes banhocas...
Passávamos por Santa Sofia, e de todas as vezes a minha mãe dizia – É ali que o Engenheiro Chaves está enterrado... – (um aparte... ainda hoje quando por lá passamos a minha mãe olha e sorri... porque pensa em dizer a frase de sempre, mas não a diz só para não ouvir “Sim mãe, já sabemos...”).
E por fim chegávamos! Saía do carro toda moída e ía brincar para casa dos meus avós. Estranho é pensar que a viagem de ida era sempre assim, mas da viagem de volta nem me lembro... Sempre tão rápida...
Hoje em menos de uma hora chego ao destino...
hoje sou eu que conduzo...
hoje pouco vejo...
Hoje pouco vivo a alegria e a ansiedade de uma longa viagem...
Imagem: tilde by CubicSummer
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