Comecei o dia bem...
Ao estacionar o carro ao pé do escritório ouvi a música do amolador. Sorri...
Lembrei-me do meu bairro há vinte anos atrás...
Lembrei-me do padeiro a subir as escadas de serviço do prédio e a deixar pão quentinho num saco de pano bordado com um cordão... Era o senhor Zé... Também ele andava pelas ruas de Lisboa de bicicleta com um grande cesto de verga atrás... A minha mãe encontrou-o há dias. Entrou num taxi, como sempre começou a tagarelar com o taxista e depois disse – Eu não o conheço? – passado pouco tempo chegaram à conclusão que era o Sr. Zé padeiro.
Lembrei-me do sapateiro que existia no inicio da rua. Era baixo e tinha botas ortopédicas... Uma delas com um salto do dobro da outra... A minha mãe dizia-me que ele ficara assim, por o terem deixado cair ao chão em criança... Era o Sr. Zé Sapateiro.
Lembrei-me da pequena mercearia, onde cada vez que lá ía o dono me dava uma cenoura crua e lavadinha para roer. Era o tão simpático Sr. António Merceeiro...
Lembrei-me da outra mercearia, quatro prédios acima do Sr. António Merceeiro... Já não gostava tanto de ir lá... não me davam cenouras para roer. Era o Sr. Serafim Merceeiro...
Lembrei-me de uma pequena papelaria onde a minha mãe levava as meias e collants para arranjar (na altura arranjavam-se as malhas dos collants...). Era a Srª Senhorinha (que nome...)...
Lembrei-me do talho da rua de baixo... gostava de lá ir com a Rosa, a querida e eterna empregada dos meus pais (até aos meus dezasseis anos), e ver aquelas facas enormes a cortarem a carne como se fosse gelatina... Era o Sr. Olimpo e ainda é, graças a Deus...
Lembrei-me de uma das oficinas lá da rua, onde os meus pais gastavam brutalidades de dinheiro para manter um Alfa Romeu com volante do lado direito... Na altura as peças vinham de Itália ou Inglaterra... Acabaram por o vender... não valia o gasto...
Era e é o Sr. Xavier... O Santo salvador do meu pequeno bólide, que ainda hoje quando me vê me trata como uma menina pequena...
Lembrei-me que em cada passo que dava todos nos cumprimentavam... Agora já não é assim... anda tudo a correr...
E foi assim, o dia até começou bem....
Já para a tarde o chão pareceu fugir-me... O meu pai... um susto... mais um... E a minha mãe? Guardou tudo para ela, resolveu tudo sozinha... não me ligou para não me preocupar e levou com tudo sozinha... Não sei com qual dos dois me preocupo mais... Se com o meu pai por ver a tristeza dele ao sentir-se incapaz, se com a minha mãe que tudo guarda e não pára... Enfim... fiquei preocupada... ainda estou...
Mas coloquei o meu sorriso vinte e um e chutei para a frente... o chão reapareceu... e aos poucos começou a ficar fofo...
Não estou a flutuar, ainda... mas estou a deixar-me levar no tapete rolante que me deixa à entrada das escadas também elas rolantes, que por sua vez me levam à saída desta estação. Só não me posso perder pelo meio... e se alguém as parar tenho de continuar a andar...
Ao estacionar o carro ao pé do escritório ouvi a música do amolador. Sorri...
Lembrei-me do meu bairro há vinte anos atrás...
Lembrei-me do padeiro a subir as escadas de serviço do prédio e a deixar pão quentinho num saco de pano bordado com um cordão... Era o senhor Zé... Também ele andava pelas ruas de Lisboa de bicicleta com um grande cesto de verga atrás... A minha mãe encontrou-o há dias. Entrou num taxi, como sempre começou a tagarelar com o taxista e depois disse – Eu não o conheço? – passado pouco tempo chegaram à conclusão que era o Sr. Zé padeiro.
Lembrei-me do sapateiro que existia no inicio da rua. Era baixo e tinha botas ortopédicas... Uma delas com um salto do dobro da outra... A minha mãe dizia-me que ele ficara assim, por o terem deixado cair ao chão em criança... Era o Sr. Zé Sapateiro.
Lembrei-me da pequena mercearia, onde cada vez que lá ía o dono me dava uma cenoura crua e lavadinha para roer. Era o tão simpático Sr. António Merceeiro...
Lembrei-me da outra mercearia, quatro prédios acima do Sr. António Merceeiro... Já não gostava tanto de ir lá... não me davam cenouras para roer. Era o Sr. Serafim Merceeiro...
Lembrei-me de uma pequena papelaria onde a minha mãe levava as meias e collants para arranjar (na altura arranjavam-se as malhas dos collants...). Era a Srª Senhorinha (que nome...)...
Lembrei-me do talho da rua de baixo... gostava de lá ir com a Rosa, a querida e eterna empregada dos meus pais (até aos meus dezasseis anos), e ver aquelas facas enormes a cortarem a carne como se fosse gelatina... Era o Sr. Olimpo e ainda é, graças a Deus...
Lembrei-me de uma das oficinas lá da rua, onde os meus pais gastavam brutalidades de dinheiro para manter um Alfa Romeu com volante do lado direito... Na altura as peças vinham de Itália ou Inglaterra... Acabaram por o vender... não valia o gasto...
Era e é o Sr. Xavier... O Santo salvador do meu pequeno bólide, que ainda hoje quando me vê me trata como uma menina pequena...
Lembrei-me que em cada passo que dava todos nos cumprimentavam... Agora já não é assim... anda tudo a correr...
E foi assim, o dia até começou bem....
Já para a tarde o chão pareceu fugir-me... O meu pai... um susto... mais um... E a minha mãe? Guardou tudo para ela, resolveu tudo sozinha... não me ligou para não me preocupar e levou com tudo sozinha... Não sei com qual dos dois me preocupo mais... Se com o meu pai por ver a tristeza dele ao sentir-se incapaz, se com a minha mãe que tudo guarda e não pára... Enfim... fiquei preocupada... ainda estou...
Mas coloquei o meu sorriso vinte e um e chutei para a frente... o chão reapareceu... e aos poucos começou a ficar fofo...
Não estou a flutuar, ainda... mas estou a deixar-me levar no tapete rolante que me deixa à entrada das escadas também elas rolantes, que por sua vez me levam à saída desta estação. Só não me posso perder pelo meio... e se alguém as parar tenho de continuar a andar...
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