Não imagines...
Lembra-te...
Lembra-te de me ires buscar à escola, dos meus coleguinhas correrem para ti. Lembras-te? Vinham ter comigo a gritar "O teu pai já chegou!". Dávas-me a mão e saímos do colégio... Estava a começar a aprender a ler e todos os sitios por onde passávamos queria ler... Passávamos por uma garagem onde dizia "Camiões" e eu lia sempre "Camões"... Não me corrigias, apenas sorrias e festejavas o meu feito. Não me lembro do dia em que li "Camiões", mas lembro-me das várias vezes que li "Camões"... Descíamos a rua e, ao passarmos pelo muro do jardim, parávamos junto aos pequenos buracos de irrigação do muro, para ver os bichinhos de conta... Às vezes saíam lagartixas e assustava-me, mas voltava sempre para ver os bichinhos de conta... Passávamos para o outro lado da rua e, sempre a descer junto à quinta, saltava para apanhar as bagas vermelhas que pendiam das árvores que envadiam o passeio... Sempre de mão dada, sempre a saltar para levar bolinhas vermelhas para casa... O cheiro era e ainda é inconfundível... a terra molhada... depois passávamos pelo caseiro da quinta e cumprimentávamo-lo... descíamos a rua e entrávamos na nossa... cumprimentávamos o merceeiro, o sapateiro, o outro merceeiro, os senhores da oficina... Chegávamos a casa, tirávas-me o casaco, a bata e beijávamos a mãe...
Lembras-te?
Passaram-se 27 anos...
Hoje já leio "Camiões", já não há buraquinhos no muro do jardim, as bagas quando pendem já me batem na cabeça, o caseiro, os merceeiros, o sapateiro já lá não estão...
Mas os cheiros, as sensações e os momentos vivem no meu coração.
26.2.07
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3 comentários:
Doce lua :) estou ai..aqui ..onde me desejares estarei ..beijo de imenso azul cheio de força
Estou alguns dias sem visitar o teu blog, e agora que aqui cheguei deparo-me com um cenário exactamente igual aquele com que diariamente luto: o medo de perder quem me é mais próximo, o medo de perder quem mais amo.
Sinto-me completamente impotente perante o que descreves e não sei o que fazer, nem sequer sei se há algo que possa ser feito para que obtenhas algum consolo. Simplesmente sei que após ler os teus posts não consegui ficar indiferente e uso a única forma que, neste momento, disponho para chegar até ti, através deste comentário.
Há alguns anos li um pensamento que reti e me tem ajudado a ter a perspectiva correcta perante diversas situações na minha vida. Partilho-o agora contigo, na esperança que, mesmo não conseguindo aliviar a tua dor, sintas que a podes partilhar.
'"ISTO TAMBÉM HÁ-DE PASSAR." Foi a minha avó que me ensinou estas palavras, como frase a utilizar em todas as alturas da nossa vida. Quando as coisas estão espectacularmente terriveis; quando as coisas estão absolutamente aterradoras; quando tudo está soberbo, fantástico, maravilhoso e feliz - diz a ti próprio estas quatro palavras. Elas dar-te-ão um sentido de perspectiva e ajudar-te-ão, também, a aproveitar ao máximo o que é bom e a ser estóico perante o que é mau.'
Um beijinho.
Obrigada...
Obrigada MESMO a todos os meus amores e pirilampos que me têm dado força, calma e paz...
As vossas palavras, os vossos pensamentos, o sentir que estão comigo e me sorriem, têm-me agarrado e feito acreditar.
Nestes últimos dias tenho andado numa baralhada total sem saber em que acreditar... Cheguei a pensar que em nada acreditava...
Agora cheguei à conclusão que acredito no mais importante... Acredito no Amor... Acredito no amor puro... e esse amor nunca esvanece.
(tenho ver se me lembro deste acreditar sempre que me começar a ir abaixo...)
E sim...Isto também há-de passar...
Beijos grandes e um abraço tão grande como aquele que me têm dado.
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